quarta-feira, 23 de março de 2011

Outros palhaços de São Paulo

Durante muitos anos duas lonas imperaram em São Paulo: a de Piolin (1933-1961) e a dos Irmãos Seyssel, entre eles o palhaço Arrelia (1922-1953), sendo que o primeiro ficou armado por uma década nas proximidades da Praça Marechal Deodoro, zona oeste da capital, e o segundo, pelo mesmo período, no Largo da Pólvora, bairro da Liberdade. Enquanto Piolin foi referência da comicidade circense paulista, fato endossado tanto pelos intelectuais modernistas quanto pelo público que lotava suas arquibancadas, Arrelia e seus irmãos ofereceram um circo com poltronas e piso de madeira, com espetáculos igualmente antológicos. Entretanto, não só dos dois palhaços viveram as gargalhadas paulistanas. Outros animaram os bairros mais afastados e aqueles nem tão distantes do centro. Um deles foi Chororó. O circo de Humberto Militello, que incorporava o palhaço, se especializou em circo-teatro e levou o hábito de rir e chorar aos bairros da zona sul. Seu pavilhão era concorrido e lá se apresentava o imenso repertório de comédias e dramas do circo brasileiro: Honrarás sua mãe, Silvio o cigano, O morto que não morreu, etc. A filha de Humberto é a atriz Vic Militello, que cresceu na coxia do pavilhão e aprendeu todas as trucagens cênicas que depois usaria nos seus espetáculos de teatro.
Outro grande palhaço foi Picoly, pai do atual Picoly (Benedito Sbano), que por anos atuou no seu Pavilhão Popular Volante. Quando encenava uma correira final, que caracteriza as comédias circenses, ao dar um tiro de festim para animar mais a cena, acertou o joelho. Em decorrência do acidente, adquiriu tétano e veio a falecer, sendo substituído pelo filho, que atua até hoje, aos 83 anos.
Outro grande palhaço com final trágico foi João Minhoca (Carlos Pereira), irmão do clown Alcebíades, que fez muito sucesso fez em São Paulo no início da década de 20. Este excêntrico, quando se recolheu nos bastidores para fazer uma pausa nas entradas que fazia com Alcebíades, deixou o irmão à sua espera por longos minutos, até ser descoberto caído na coxia, vítima de morte súbida.
Para concluir, outro imprescindível palhaço, este sem final trágico - aliás, fujamos do estereótipo de que todo palhaço é, na realidade, triste, pois isso é figura de linguagem desgastada, criada durante o período do Romantismo literário... - foi o inesquecível Figurinha (Nelson Garcia), genro de Piolin. Animou por muitos anos o picadeiro do Circo Garcia, montado sobre sua mini bicicleta, esta construída especialmente pela Monark e hoje parte do acervo do Centro de Memória do Circo. Todos eles animaram a cena paulista e contribuíram para a formação cultural da cidade, influência esta quase sempre deixada de lado pela maioria dos pesquisadores da cultura.

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