Pedro de Lara sempre foi Pedro de Lara. Sérgio Mallandro sempre foi Sérgio Mallandro. Mas Gibe nem sempre foi Papai Papudo. Aliás, foi muito, muito mais. Circense, Gilberto Fernandes, que nos deixou em julho passado, foi malabarista, acrobata, palhaço, ator de circo-teatro e de teatro, diretor e "Rei da Noite", por ter administrado casas de espetáculos de vedetes, entre elas Marli Marley.
Segundo sua cunhada, a atriz Vic Militello, que o dirigiu diversas vezes, entre elas na peça solo "O grande biltre", tinha um raro senso de improvisação e interpretação, criando sempre situações de extremo humor. No encontro que teve em novembro no Centro de Memória do Circo, parte do projeto "Entre risos e lágrimas - O teatro no circo (da pantomima aos dramas)", com o ator e palhaço Raul Barreto, dos Parlapatões, Vic teve a oportunidade de relembrar as proezas do grande biltre, especialmente a sua participação no espetáculo "Teatro de Terror", dirigido por ela e que resgatava o circo-teatro e o improviso dos picadeiros.
Raul afirma categoricamente que seu aprendizado com Gibe foi riquíssimo, pois ele tinha a habilidade de, na coxia, minutos antes de entrar em cena, dar uma ou duas instruções ao novato para, em seguida desenvolver uma cena tão engenhosa quanto engraçada. Além disso, tinha um vocabulário só dele para xingar as pessoas: "Seu biltre, safardana!". Sem falar do seu grande bordão pessoal: "Morrerão todos ao amanhecer!..."
Gibe é da estirpe dos Fernandes, tradicional família circense - o que ninguém procurou saber ao noticiar sua morte, associando-o somente ao coadjuvante do Bozo e às pegadinhas do programa "Topa Tudo por Dinheiro", apresentado no SBT que, aliás, era completamente criado por ele até a chega de Ivo Holanda.
Conta-se que, certa vez, ao ouvir o pedido de aumento de Rubem Braga pelas crônicas que escrevia na revista Manchete, Adolpho Bloch disse que era um absurdo pagar mais por algo que o escritor concebia em dois minutos; ao que este respondeu: "Não são dois minutos. São trinta anos mais dois minutos". Aos que só viram Gibe enganando por dois minutos algum incauto passante, vale a pena pensar que, para fazer isso, ele levou trinta anos e dois minutos.
P.S. - É característico destes tempos enaltecer algum artista por ele ser "nonsense" ou pelo mero fato de, ao enaltecê-lo alguém achar que também é "nonsense". Pois bem, até para ser um grande biltre é preciso ter talento.
Um comentário:
Fala, Waltão...
Lindo blog, amigo..
Vou colocar um link lá no meu ...
abs,
Machado
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