quinta-feira, 29 de março de 2012

Millôr, o pensador

millor3 MillôrOs golpes vão se sucedendo... Agora foi o Millôr... Bom, se o riso em Chico Anysio se apoiava no trabalho do ator - embora ele tivesse sido também bom escritor e compositor - no caso de Millôr o humor, embora elemento essencial de toda a sua obra, é apenas a consequência de um elaborado e complexo exercício do pensar. Porque Millôr foi filósofo, que o diga a infinidade de frases - e ele não era somente um bom frasista - que inundam a Internet desde ontem... Digo que ele não foi somente bom frasista porque em comparação com seus antecessores frasistas, entre eles o Barão de Itararé e Stanislaw Ponte Preta, suas frases revelam um pensamento pautado na originalidade e, mais essencialmente, na profunda verdade que a maior parte delas tocam. Não é à toa que reuniu boa parte delas numa obra fundamental, digna de figurar nas mais estritas antologias da literatura brasileira: A bíblia do caos, também conhecida como Millôr Definitivo. Como se não bastasse, o guru do Méier ainda desenhava, foi um dos primeiros a ousar fazer humor com o computador e, a título de floreio da informação, foi também o inventor do "frescobol". Se o humor de Chico Anysio e seus contemporâneos abrem a larga lacuna que apontei no post anterior, a falta de Millôr deixa a criatividade artística brasileira amputada. Ou, como apontou a presidenta, perde-se uma referência. Millôr esteve presente em diversos fatos seminais que marcaram a resistência intelectual à ditadura militar. Esteve no Cruzeiro na época do golpe, fundou a revista Pif Paf no ano de 1964 com a ajuda de amigos,voltou à cena com o Pasquim. Foi o arauto de uma geração amordaçada, sempre armado com uma inteligência ímpar. Não foi humorista, muito menos palhaço. Foi um pensador. Felizmente usou do humor para exercitar o pensamento antes que este se perdesse nos nivelamentos sedentários que hoje dominam a inteligência nacional...

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