terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O palhaço sagrado dos Krahôs

O eixo de equilíbrio de toda uma sociedade: o riso. Sim, poderia ser de todo o planeta, não fosse a maioria humana se levar muito a sério. Ou levar a sério a sua realidade e fazer dela... o seu ponto de equilíbrio. Mas como se equilibrar na lâmina de uma faca? Melhor desistir e se render ao riso, como fazem os índios Krahôs, do Tocantins. São eles tema de um documentário que estreou no Brasil em 2009, tendo antes participado de vários festivais internacionais. Dirigido pela atriz Letícia Sabatella e por Gringo Cardia, o filme O riso Hotxuá - Palhaços sagrados, que tem agora seu nome abreviado para Hotxuá, mereceu esta semana tratamento de "pré-lançamento". Na verdade ele circula desde janeiro de 2009, tentando conquistar público ao contar a mitologia e a forma de ver o mundo desse povo estimulado por seu "palhaço sagrado" - expressão que, para mim parece redundante, uma vez que é o riso o que desatou a luz da vida e não o verbo bíblico. Hotxuá é esse sacerdote dedicado a espalhar o riso, diuturnamente, na tribo. O mais interessante é que o espírito do arquétipo do palhaço - daquele que conhecemos do picadeiro e das telas de televisão - é o mesmo, incluindo os recursos de comicidade. Entre eles a imitação do sexo contrário, a ação da lógica que reverte a ordem para reafirmar a ordem, inclusive o uso do desequilíbrio para estabelecer o equilíbrio, pois é função do Hotxuá dissipar as intrigas, desfazer os desacertos, trazer de volta a harmonia. Assim, o palhaço tem uma função social - e quem disse que aqui também não tem, hein? - e ser escolhido para a função é descobrir-se privilegiado. Há também um encontro entre comicidades, o palhaço ocidental e o Hotxuá, o que, em geral, pode engendrar somente um rito narrativo de reportagem de TV, de aliar o velho ao novo. Mas não é isso o que ocorre, nem essa a intenção dos diretores. Mas de mostrar exatamente a universalidade do riso e da figura do palhaço. Bom, ao trailer:

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