quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Três ou quatro coisas sobre O Palhaço, de Selton Melo


Relatórios concluídos e entregues, finalmente fiz o que boa parte das pessoas que me conhecem e sabem da minha pesquisa sobre o circo vinham me cobrando há tempos: vi o filme de Selton Melo. O filme tem, aliás, feito uma longa carreira de bilheteria, coisa rara no Brasil, especialmente em se tratando de um filme que trata de um palhaço em crise existencial. Mas o filme, de fato, é bem espirituoso, faz as devidas homenagens - Benjamin (de Oliveira) e Valdemar (Seyssel), com os sobrenomes Savalla Gomes, homenageiam, numa tacada só, o palhaço negro do início do século, Arrelia e Carequinha - e reúne elenco de humoristas inspirados. O interessante é que eles fazem aparições especiais, muitas delas inesquecíveis, como a de Moacir Franco como o delegado apaixonado pelo gato de estimação, e a de Jorge Loredo, o Zé Bonitinho, aos 86 anos, e que é peça-chave na solução do principal nó da trama: a depressão de Pangaré, o palhaço vivido pelo diretor do filme, Selton Melo. Outro destaque é o sempre bom Jackson Antunes, que dá o principal tema narrativo da história e ainda toca viola, ele que já foi ator de circo-teatro. Por fim, e com respeito solene, o desempenho de Paulo José, ícone do cinema nacional e eterno Macunaíma (junto com Grande Otelo).
Segundo, esse trançar de fios narrativos compõem uma reforçada e colorida lona circense, revelando, como poucos road movies (os filmes de viagem) a contribuição daqueles que estão fixados na alma daqueles que passam. Além disso, inverte a dúvida, que geralmente é daquele que está fixo e acaba tentado a seguir com o circo. No filme é o palhaço, que segue uma viagem sem fim, que acha que deve se fixar.
E terceiro, o otimismo de que o espetáculo irá continuar na geração seguinte, num final que restitui à família circense o orgulho da profissão, pois nas circunstâncias que se apresentam, não resta nada senão seguir em frente. Ainda, uma outra reflexãozinha: será que o público que tem aplaudido a fita tem assim reagido por ver na salinha escura um desfile de pessoas que dão sua contribuição para aquilo que realmente vale a pena na vida, aprender com o outro? Se não for por isso, então só pode ser muito otimismo meu...
Aliás, falando nisso, a metáfora do ventilador (ou seria do catavento?) me remete ao Profeta Gentileza. É o chamado da alma. Mas isso é assunto para outro post.

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