sábado, 17 de dezembro de 2011

Os 50 anos da tragédia de Niterói

Certa vez, ao final de uma aula sobre a minha pesquisa sobre o circo, um aluno me aborda na saída da sala e me pergunta sobre uma história que ouvia do pai: a tragédia ocorrida num circo em Niterói na década de 1960. Hoje, dia 17, completam-se cinquenta anos do incêncio que vitimou mais de 500 pessoas, a maior parte crianças, no Gran Circo Norte-Americano, da família Stevanovich. A tragédia ecoa na alma da cultura brasileira ainda hoje, além de continuar sendo talvez a maior tragédia mundial dentro de um circo. Recentemente o jornalista Mauro Ventura narra os acontecimentos daquele 17 de dezembro, ouvindo sobreviventes e revelando personagens que permaneceram anônimos nessa metade de século no livro O espetáculo mais triste da terra (Companhia das Letras). De fato, uma narrativa ponteada de histórias muito tristes, em estilo de crônica - o autor é jornalista d'O Globo), que dilata a tragédia ainda mais. Mas, para pontear a tristeza, trago um encontro que foi muito fortuito e que ocorreu na última segunda, quando lancei o livro Mixórdia no picadeiro - Circo-teatro em São Paulo (1930-1970), no Centro de Memória do Circo. Numa certa altura se aproxima de mim uma simpática velhinha que vem me falar sobre sua experiência com o tema do livro, dona Elza Marlene, personagem do livro Nostalgia, do casal Elena Cerântola e Gallo Cerello, fundadores do Circo Vox, que também autografavam naquele dia. Me contou, depois, que atuava no Gran Circo Norte-Americano mas, que naquela trágica tarde, estava no hospital, devido a uma torção no braço - era trapezista com os irmãos, um deles foi o último a pular do trapézio para a rede de proteção, depois de Nena Stevanovich ter gritado "fogo!" e desatado o corre-corre debaixo da lona em chamas. Por conta de um acidente no dia anterior, dona Elza escapou, embora conte que aquele irmão teve os braços queimados pelas chamas que caíam do teto sobre as quatro mil pessoas que lotavam a sessão. Dona Elza, com os olhos serenos, fala baixinho e sorri. Sabe que traz uma boa parte da história do circo, incluindo as mais trágicas. O que vale é poder e aprender a ouvir suas histórias.

Dona Elza e o filho. Atrás de mim, meu pai.

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