terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Censura e tolerância

O Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura (NPCC) é uma iniciativa da ECA/USP apoiada pela Fapesp, e que tem o objetivo de promover pesquisas acadêmicas sobre as diversas formas de censura, essa prática que é tão antiga quanto o advento do Brasil como nação (ou antes disso). O núcleo surgiu de outro projeto de pesquisa, que tratou dos processos de censura do Arquivo Miroel Silveira, que abriga o acervo do antigo Departamento de Diversões Públicas, que se ocupou de cercear a produção artística a partir de critérios morais, políticos, religiosos e outros. Atualmente o NPCC quer compreender melhor as formas mais refinadas de censura - refinadas por se darem de forma tênue, não pesada, como ocorre nos regimes de exceção - como a financeira e a que todos assistem atualmente, que é o de uma mídia que decide "deixar de cobrir" determinado fato por julgar ser este fato distante dos seus interesses. O caso emblemático é o do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que se aproxima da casa dos 100 mil exemplares vendidos, embora a mídia tradicional trate o fenômeno como, no máximo, fruto do marketing viral da internet. Privataria Tucana toca num tema guardado pela mídia como um Santo Graal: as privatizações conduzidas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Nenhum órgão de imprensa se ocupou de ir atrás das denúncias feitas pelo livro. Nem que fosse para desmenti-las. Quando muito, publicaram notas desqualificando o autor, um jornalista detentor de dois prêmios Esso e quatro Vladimir Herzog. O que interessa aqui não é a defesa do autor, nem do teor das denúncias, pois essas deverão ser tratadas pelo Congresso e pelo Ministério Público, não por este pesquisador. O que venho tentando é divulgar opiniões que fazem uma reflexão sobre esse fenômeno de censura. Antes, porém de prosseguir, quero deixar claro que não creio num mundo maniqueísta, particularmente na política. Não há um embate entre times, azuis contra vermelhos, Garantido contra Caprichoso, "nós" contra "eles". O que tem se evidenciado nas discussões via internet é um viés mais social do que político: de uma classe contra outra ou vive-versa. Mas toda discussão suscita tolerância com a opinião do outro, ou seja, envolve o exercício da alteridade.
Compartilhei na rede social Facebook alguns artigos que discutiam o fenômeno do livro - que, aliás, a despeito do nome, não trata só do PSDB, trata também do PT e de seus erros políticos - e, numa das postagens, recebi, de imediato, um petardo de intolerância. O autor, talvez julgando-me um "petralha", como o jargão estereotipado gosta de rotular, ou "de algo pior", como o mesmo escreveu, veio distribuindo bordoadas: duvidou da minha boa informação (ou formação?), questionou uma certa ingenuidade, lastimou a minha "defesa" de pessoas que querem censurar a imprensa (???). Isso quando somente compartilhei o artigo de Ricardo Kotscho, postado via blog Brasilianas, de Luís Nassif. Enfim, dois blogueiros que destoam do silêncio orquestrado da grande mídia. E a distinção é só essa. No entanto, o fato, simples e isolado, deu ao meu dileto crítico o direito de me acusar. Respondi que respeitava a opinião alheia, mas não agredia quem discordasse de mim. Sua contra-resposta foi mais virulenta ainda. Perguntou-me, ao final, se, "como Luís Nassif", eu também recebia dinheiro do governo. De fato recebo. Todos que leem e acompanham meu blog sabem que sou pesquisador, pós-doutorando bolsista pela Fapesp. Mas não mantenho minhas atividades na internet para defender esse ou aquele partido político. Nem para construir argumentos baseados na beligerância que move o embate entre partidários. Aliás, dileto crítico, partidos políticos não se constroem somente pelas vias políticas da democracia, se constroem também pela argumentação e defesa apaixonada de visões políticas.
O meu papel é suscitar a discussão. Mas uma discussão construtiva, civilizada. Pois só assim conseguiremos entender melhor esses tempos de transição por que passa o nosso jornalismo. (A imagem que ilustra o post, para dar um pouco de humor à discussão e para não escapar à essência do blog, que é a cultura popular, traz o personagem nordestino símbolo da intolerãncia, Seu Lunga. Vamos deixar de praticar o "lunguismo" nas redes sociais!)

Um comentário:

Anônimo disse...

E, no mais, os caras não conseguem se defender mesmo! HUAHUAHUAHUAHUAHUA!!! (como se diz nas redes socias...)
Sim a discussão, não a intolerância, sempre.

PS. Conheci seu Lunga em Juazeiro do Norte.

PP