quarta-feira, 29 de junho de 2011

O homem da chave


Pedro era santo de devoção de meus dois avôs, tanto materno, que tinha seu nome, quanto paterno, que era Benedito. Desde pequeno aprendi que é ele quem detém a chave do céu e que arrasta os móveis em véspera de tempestade, assustando as crianças com o que aqui chamamos de trovão. Sua festa é a última das juninas, e pouca gente se lembra que ele é o primeiro dos Papas e aquele que negou Jesus por três vêzes. Venerado pelos pescadores, já que era essa sua profissão quando Jesus o encontrou às voltas com as redes vazias de peixes - tratando de enchê-las milagrosamente - e pelas viúvas dos pescadores do Rio São Francisco. Tal culto gerou as procissões marítimas e fluviais. Alceu Maynard Araújo conta que foi nas festas de Pedro que surgiu o tal Pau de Sebo, mastro fincado no terreiro, todo ensebado e com prendas presas no topo, cujo desafio do caboclo é conseguir alcançá-las mesmo que a trajetória escorregadia o faça comprovar a Lei da Gravidade. Há ainda, nos festejos juninos, o Porco ensebado, versão do pau de sebo personificada por um leitão besuntado a correr pelo terreiro - também era uma brincadeira de circo - com meia dúzia de marmanjos se desmilinguindo no chão atrás do bicho. Quando alguém conseguia agarrá-lo, ele logo escapulia, após se debater e berrar assustadoramente... Aqui, enfim, concluo o ciclo das festas de Junho, saudando o santo de meus avós!

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